04 de Agosto de 2020

Pesquisador do InsCer é empossado no Conselho Nacional de Educação

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O pesquisador do Instituto do Cérebro do RS e professor da Escola de Ciências e da Vida da PUCRS, Augusto Buchweitz, acaba de ser empossado membro do Conselho Nacional da Educação (CNE), órgão vinculado ao Ministério da Educação (MEC).

A partir de hoje e pelos próximos quatro anos, o Prof. Dr. Augusto Buchweitz integrará a equipe da Câmara de Educação Básica do CNE, ao lado de sete novos conselheiros que se juntam a outros conselheiros ainda com mandato vigente. A nomeação é um reconhecimento ao trabalho de anos do profissional com pesquisas no âmbito da neurociências, alfabetização e aprendizagem. A posse ocorreu de forma virtual, às 15h desta terça-feira, 4 de agosto.

As atribuições do CNE são de assessoramento ao Ministério da Educação, cabendo ao Conselho formular e avaliar a Política Nacional de Educação, zelando pela qualidade do ensino no país. Mas, pessoalmente, Buchweitz espera levar para essas atribuições contribuições específicas: “Pretendo contribuir com a (Neuro) Ciência da Leitura e levar uma abordagem científica para informar decisões e propostas, especialmente em se tratando de alfabetização e aprendizagem nos anos iniciais”, observa.

O pesquisador pretende aplicar o conhecimento adquirido no meio acadêmico em prol de toda a educação básica do país, especialmente no que tange ao processo de alfabetização, para que crianças, desde a idade pré-escolar, tenham acesso ao ensino das relações entre letras e sons, a denominada instrução fônica. “Essa é a melhor maneira – mais eficaz e mais efetiva – de se alfabetizar”, afirma, e adiciona que existe embasamento científico para tal premissa.

Sobre a instrução fônica, o novo conselheiro defende que não se trata de um método, uma vez que seria, essa, uma simplificação, remetendo a um protocolo que não existe e que causa uma reação improdutiva e cercada de dogmas. “A questão não é um método. O que se defende para a alfabetização no Brasil, e está definido na Política Nacional de Alfabetização, é que habilidades e conhecimentos fundamentais e as relações entre letras e sons sejam sistematicamente ensinados na pré-escola e ensino fundamental”, salienta Buchweitz.

A neurociência também vem contribuindo para essa discussão ligada ao processo da leitura, com estudos recentes que mostram que a ativação do cérebro para linguagem oral (dos sons) e para a leitura são mais semelhantes naquelas pessoas que leem bem; ou seja, quando se lê bem, se mesclam, no cérebro, a linguagem oral e a escrita (letras e sons). “As evidências da ciência da leitura mostram que a instrução fônica e o ensino de habilidades fundamentais, juntos, aumentam em muito a probabilidade de melhores resultados na alfabetização (o que chamamos de tamanho de efeito). Essas evidências são exaustivas, robustas e vêm desde a década de 60”.

Até porque, afirma o pesquisador, a aprendizagem da leitura não se dá naturalmente. “A Ciência da Leitura e a Neurociência mostram que essa aprendizagem não é natural para o cérebro humano, depende de adaptações das nossas redes neurais e não se dá por adivinhação ou por hipóteses. A defesa, portanto, é de reformular o paradigma da alfabetização com base na ciência. Repetindo, o que se defende é a instrução clara de um conjunto de habilidades e conhecimentos fundamentais e das relações entre letras e sons. E esse ensino não precisa ser aborrecido, ele pode e deve ser, sim, lúdico”.

Augusto Buchweitz

Atua como professor da Escola de Ciências da Saúde e da Vida da PUCRS e membro permanente dos programas de pós-graduação em Psicologia, Medicina e Letras, nesta universidade, nos quais orienta mestrado e doutorado. É pesquisador do Instituto do Cérebro do Rio Grande do Sul, onde criou e coordena o ambulatório de aprendizagem do projeto ACERTA (avaliação de crianças em risco de transtornos de aprendizagem). Este ambulatório, desde 2013, avaliou mais de 800 crianças com dificuldades de aprendizagem da leitura. Coordenou o projeto VIVA (Vida e Violência na Adolescência) em consórcio com o Banco Interamericano de Desenvolvimento e a Universidade Autónoma de Honduras em que, pela primeira vez, se estudou os efeitos da violência na cognição e no funcionamento do cérebro de adolescentes. É também pesquisador afiliado do Haskins Laboratories, Universidade Yale e do Haskins Global Literacy Hub, um consórcio mundial de cientistas da leitura que busca o desenvolvimento de projetos multinacionais pela alfabetização. Sua pesquisa está voltada para a investigação das bases neurais e cognitivas da aprendizagem da leitura e da dislexia, bem como para a investigação dos fatores cognitivos e ambientais que influenciam o desenvolvimento e a aprendizagem.

Conselho Nacional de Educação (CNE)

O CNE tem por missão a busca democrática de alternativas e mecanismos institucionais que possibilitem, no âmbito de sua esfera de competência, assegurar a participação da sociedade no desenvolvimento, aprimoramento e consolidação da educação nacional de qualidade. Mais informações sobre o conselho aqui.