15 de Outubro de 2020

Pesquisa da PUCRS repercute internacionalmente ao revelar células intactas em múmia

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Estudo desenvolvido pelo Grupo de Estudo Identidade Afro-Egípcias da Escola de Humanidades foi publicado pela European Association for Osseointegration

Pesquisadores da PUCRS descobriram, a partir de testes de processamento tecidual, que a cabeça de uma múmia de 2.495 a 2.787 anos continha células ainda intactas. Iret-Neferet, como foi batizada, chegou ao Brasil na década de 1950, em Cerro Largo. O trabalho foi apresentado em um evento recente em Berlin, na Alemanha, promovido pela Associação Europeia de Osseointegração. A publicação é referência internacional e tem avaliação máxima pela Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes). 

O estudo foi realizado pelos irmãos Éder Huttner, cirurgião bucomaxilofacial e gerontologo, e Édison Huttnerprofessor dPrograma de Pós-Graduação em História e pesquisador. Ambos atuam no Grupo de Estudo Identidade Afro-Egípcias da Escola de Humanidades da PUCRS e contaram com a participação do especialista em Periodontia Bruno Candeias na produção científica. O Instituto do Cérebro do Rio Grande do Sul (InsCer) foi o local responsável por executar as tomografias na múmia.  

Os irmãos assinaram um acordo com o Museu de Cerro Largo, onde a múmia está localizada, para dar continuidade às pesquisas sobre o tema por mais cinco anosSegundo eles, a descoberta é a primeira desse tipo no Brasil e o próximo passo é fechar uma parceria com o Instituto Max Planck, da Alemanha, especializado em estudo de DNA. 

Células milenares contam a história 

Éder foi o responsável por extrair o dente de Iret-Neferet para que um laboratório nos Estados Unidos pudesse fazer a datação do carbono 14, decisivo na confirmação da idade da múmia de sua origemO material também foi processado e passou por análise histológica no Laboratório de Anatomia Patológica do Hospital São Lucas da PUCRS. 

A histologia recém feita permitiu a visualização das hemácias intactas morfologicamente dentro de um vaso sanguíneo na cabeça, assim como a estrutura dos tecidos ósseos da mandíbula e muscular do masseter”, explica. 

Os resultados revelaram a eficácia e a qualidade tecnológica da época no processo de mumificação e permite que mais estudos sobre o Genoma e Proteoma sejam realizados. 

Uma nova fase para a egiptologia brasileira 

Édison conta que, além da importância histórica, a descoberta também impacta no entendimento sobre a saúde da humanidade. Naturalmente essa pesquisa servirá de fundamento para outros trabalhos, tornando-se uma referência no Brasil, na América Latina e até mundialmente, principalmente no que se trata da preservação e estudo da saúde humana. 

Por trás da cabeça da múmia 

Iret-Neferet chegou ao Rio Grande do Sul como presente de um egípcio a um morador de Cerro Largo. No final da década de 1970, foi doada ao Museu 25 de Julho, no mesmo município. Em 2017, Édison visitou o museu e deu início à pesquisa. A cabeça da múmia ganhou uma exposição, em julho, na Biblioteca Central Irmão José Otão, no Campus. 

Fotos: Bruno Todeschini