19 de Julho de 2019

Como esquecer de algo que não queremos mais lembrar

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Trabalho de doutorado de Eduardo Silva de Assis Brasil acaba de ser publicado na revista internacional Behavioural Brain Research. O acadêmico foi orientado pelo Dr. Ivan Izquierdo e pela Dra. Jociane de Carvalho Myskiw, com a ajuda dos colaboradores do Centro de Memória do Instituto do Cérebro do RS.

Sabemos que as memórias de medo são essenciais para a nossa sobrevivência, entretanto elas podem levar a comportamentos defensivos exagerados em resposta a ameaças, como ocorre no Transtorno de Estresse Pós-Traumático, nas fobias e na ansiedade. A extinção é um novo aprendizado que se sobrepõe à memória original e inibe sua evocação, e pode ser útil para restringir memórias de medo a situações adequadas. Clinicamente, é chamada de terapia de exposição.

O hipocampo e a amígdala basolateral, situadas no cérebro, são estruturas essenciais tanto na formação de memórias quanto na extinção das mesmas. Esse processo pode ser modulado por diferentes fármacos e neurotransmissores, como por exemplo, a serotonina. O sistema serotoninérgico possui receptores localizados em diversas áreas no cérebro, e seu papel é bem documentado em diversas patologias, tarefas comportamentais, modulação do humor entre outras funções fisiológicas. Apesar de a modulação farmacológica do sistema serotoninérgico ser a primeira linha para o tratamento de patologias psiquiátricas, ainda existem muitas dúvidas referentes as suas funções e às ações específicas de cada receptor.

Sabe-se, por exemplo, que os receptores mais recentemente descritos 5-HT5A, 5-HT6 e 5-HT7 estão relacionados com a formação de alguns tipos de memória, entretanto nada se sabe sobre a participação desses receptores no processo de extinção da memória de medo. Além disso, esses receptores também parecem estar relacionados com outras patologias, como por exemplo a doença de Alzheimer e a esquizofrênia.

O estudo de Eduardo Assis Brasil investigou o papel dos receptores 5-HT5A, 5-HT6 e 5-HT7 na extinção da memória de medo condicionada ao contexto. O que o grupo encontrou foi surpreendente, porque a manipulação farmacológica desses receptores na região CA1 do hipocampo, uma estrutura nobre para consolidação de memórias, não alterou o processo de extinção. Entretanto, o bloqueio desses receptores na região da amígdala basolateral, uma região relacionada com o componente emocional das memórias, facilitou esse processo de extinção.

Levando em conta suas possíveis aplicações terapêuticas, estudos adicionais precisam ser conduzidos para melhor elucidar o papel desses receptores nos processos de formação de memória, mas o trabalho lança uma nova perspectiva sobre esse mecanismo de extinção, fornecendo evidências na pesquisa sobre essa vasta área de conhecimento e estimulando novas linhas de investigação.

Contribuíram para o doutorado outros integrantes do Centro de Memória como Cristiane Regina Guerino Furini, Fernanda da Silva Rodrigues, Eduarda Godfried NachtigallJonny Anderson Kielbovicz BehlingBruna Freitas Saenger e Clarissa Penha Farias. Eduardo realizou o doutorado através da bolsa MD-PhD da CAPES. Iniciou o doutorado no programa de pós-graduação da Medicina e Ciências da Saúde da PUCRS com 21 anos durante o quarto ano de Medicina, em agosto de 2016, finalizou o curso de Medicina na PUCRS em dezembro de 2018, e o doutorado em fevereiro de 2019.

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