06 de Março de 2025

Neuroscience Next 2025 discute avanços do Alzheimer

Foto: Edson Alca

No dia 24 de fevereiro, o auditório do Instituto do Cérebro sediou o Neuroscience Next 2025 – Hub Porto Alegre. Com o patrocínio da Lilly Brasil, o evento promoveu debates sobre os avanços e as perspectivas futuras no diagnóstico e tratamento da Doença de Alzheimer, com a participação de grandes especialistas em neurociência.

Um dos destaques foi a presença do neurologista francês Nicolas Villain, que compartilhou sua visão sobre os desafios no enfrentamento da Doença de Alzheimer. Confira abaixo a entrevista concedida ao time de Comunicação do InsCer:

Na sua opinião, qual é a informação mais importante que a sociedade precisa ter conhecimento, hoje, quando se fala em Alzheimer?

É importante que a população saiba que agora temos novos medicamentos que podem mudar o histórico da doença tal qual o conhecemos, isto é, que pode desacelerar a progressão da doença. As pessoas precisam saber isso porque, mesmo não sendo medicamentos milagrosos, é possível ajudá-las a ter um melhor prognóstico da doença. Isso significa que não há mais razão para hesitar em fazer um diagnóstico - às vezes as pessoas preferem não saber e mesmo alguns médicos dizem somente que não há tratamento. Com os novos medicamentos chegando, é importante saber o diagnóstico agora.

Como você avalia os medicamentos disponíveis hoje e os que estão em desenvolvimento para tratamento de Alzheimer?

Hoje temos o que chamamos inibidores da acetilcolinesterase, que são medicamentos para pessoas sintomáticas, e que melhoraram a atenção e a concentração em indivíduos com Alzheimer. Ainda que não se mude o histórico da doença e que haja declínio no futuro, significa que o o paciente se sentirá melhor no processo. É um medicamento simples, sem muitos efeitos colaterais, mas ainda não muito eficiente.

Agora, temos novos medicamentos, mais complexos, que são melhor “treinados”, digamos assim, para mirar e mudar o histórico natural da doença, desacelerando seu curso em 25% ou 30%. Considerando que o Alzheimer é uma doença de longa duração, isso poderá fazer diferença ao longo de dez anos. Ao mesmo tempo, não temos muita certeza, esses medicamentos são caros e complexos, com muitos efeitos colaterais, mas são um primeiro passo em direção à cura do Alzheimer.

Isso me faz lembrar o que aconteceu com o HIV/AIDS cerca de 30 ou 40 anos atrás, quando o AZT chegou e algumas pessoas “fugiam” dessa opção e, naturalmente, acabavam morrendo. Hoje, as pessoas tomam os medicamentos de forma correta e têm um prognóstico quase normal. Minha esperança é de que ocorra o mesmo com a Doença de Alzheimer, que esse seja um primeiro passo em direção ao fim do declínio cognitivo nessa doença.

Por que algumas pessoas têm mais risco/susceptibilidade para desenvolver a Doença de Alzheimer e quais são os processos patológicos envolvidos?

Sim, algumas pessoas têm mais risco de desenvolver essa doença. Nós sabemos que em torno de 60% das pessoas que têm esse risco é devido ao histórico genético e 40% devido ao contexto, estilo de vida. Com relação à histórico familiar, não é possível mudar muito: essa é uma doença genética de múltiplos riscos. É como se cada variante do seu gene – e temos em torno de70 ou 80 variantes - pudesse oferecer um leve risco aumentado, a partir de uma combinação ruim.

Entretanto, para os 40% restantes da população que restam, os fatores de risco são potencialmente mutáveis. São eles: riscos cardiovasculares, como pressão e colesterol altos; diabetes, obesidade, falta de exercício físico, fatores sensoriais como perda de visão ou audição, além de doenças psiquiátricas, como depressão e isolamento social. Todos esses fatores podem aumentar seu risco de diagnóstico da Doença de Alzheimer, mas se você os controlar, mesmo com a carga genética, você pode diminuir o risco de desenvolver sintomas.