InsCer inicia segunda fase da pesquisa “Alvos de Proteção para Usuários de Cocaína-Crack”
O Instituto do Cérebro da PUCRS (InsCer) iniciou, no primeiro fim de semana de novembro, a segunda fase da pesquisa “Alvos de Proteção para Usuários de Cocaína-Crack”, que tem como objetivo fazer uma nova avaliação de usuários de crack que participaram da primeira parte do estudo, em 2017. Para este ciclo, os pesquisadores pretendem reavaliar os 145 participantes do trabalho anterior: um grupo composto por homens e mulheres, usuários da droga e não usuários – o chamado grupo controle. Todos passarão por avaliação clínica, coleta de sangue para análise de biomarcadores periféricos, além de exames de ressonância magnética.
Essa é uma pesquisa liderada pelo pesquisador do InsCer Rodrigo Grassi-Oliveira, professor titular de Psiquiatria da Faculdade de Medicina da PUCRS, e coliderada pelo pesquisador Thiago Viola. Ela conta com a participação de uma equipe interdisciplinar de cientistas, financiamento do National Institutes of Health (NIH) e parceria da Associação Educadora São Carlos (AESC).
“A questão agora é saber, depois de quase seis anos, o que aconteceu com essas pessoas. Se não estão mais usando crack, queremos investigar se houve alguma recuperação; e se continuaram, como isso pode prejudicar ainda mais o cérebro, além de localizar essas áreas afetadas”, informa Viola.
Essa primeira parte da pesquisa, já rendeu quatro publicações, cujos principais achados relacionam o uso do crack à diminuição da substância branca cerebral, responsável pelo apoio, sustentação, isolamento elétrico e nutrição dos neurônios.
“Pensando em estruturas cerebrais, estão sendo encontrados prejuízos entre os conectores dos hemisférios esquerdo e direito e das partes mais frontais”, afirma Viola.
Por ser mais barato em relação a outras drogas, o crack escancara não somente um problema de saúde, mas também social. Geralmente, a substância derivada da cocaína é usada por pessoas em situação de vulnerabilidade, como vítimas de violência e abuso. Os impactos, em especial quando relacionados às mulheres, são ainda maiores:
“Nossa pesquisa demonstra que é o ambiente social que mais impacta nos prejuízos neurofuncionais e neuroestruturais e o uso da droga acaba sendo uma extensão desses problemas. O ponto de convergência para uma doença de difícil controle nos parece ser as experiências traumáticas e inequidades sociais”, comenta Rodrigo Grassi.
Contexto nacional da droga
Derivado da pasta base da coca, o crack foi, inicialmente, identificado nas ruas dos Estados Unidos na década de 1980. Desde essa época, o uso da substância esteve associado com populações em situação de vulnerabilidade social. No Brasil, ainda que não existam dados precisos sobre a data em que a droga ingressou e passou a ser distribuída, acredita-se que isso tenha ocorrido no início dos anos 1990.De lá para cá, seu uso da droga entrou em uma crescente, sempre relacionado a populações com maior fragilidade social.
Em 2014, o trabalho "Pesquisa Nacional sobre o uso de crack", organizado pelos pesquisadores do Laboratório de Informação em Saúde (Lis/Icict), Francisco Inácio Bastos e Neilane Bertoni, fez um levantamento sobre as características sociodemográficas e comportamentais dessas pessoas. O estudo, que contou com 32,3 mil participantes de todo o país, revelou que a faixa etária de maior consumo é a dos 30 anos. O uso de crack também se mostrou mais prevalente entre os homens (78,68%) e entre aqueles autodeclarados não brancos (79,15%).
No âmbito regional a tendência é semelhante. Um trabalho, com dados coletados entre 2008 e 2012, mostrou que a faixa etária com maior índice de internação é entre 25 e 29 anos. A capital, Porto Alegre, também foi o município com maior percentual de internações via Sistema Único de Saúde (SUS), chegando aos 49,8%.