02 de Maio de 2019

Doutorando volta de temporada de estudos dos Estados Unidos

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O doutorando Wyllians Vendramini, que conduz o projeto de pesquisa Superidosos no Instituto do Cérebro do RS, voltou de uma temporada de seis meses de estudos no Nathan Kline Institute for Psychiatric Research, um Instituto associado ao New York University, na cidade de Nova Iorque. Ele participou do Programa Doutorado Sanduíche no Exterior, da CAPES, por meio da Escola de Medicina da PUCRS. Desde janeiro em solo gaúcho, Wyllians volta com experiências acumuladas no campo pessoal e profissional, e compartilha conosco este período de muitos aprendizados.

1) Onde você estava trabalhando?

Trabalhei no Nathan Kline Institute for Psychiatric Research (NKI), um instituto associado a New York University. Estava na divisão de Center for Biomedical Imaging and Neuromodulation sob a orientação do Dr. Alexandre Rosa Franco. Fiquei durante seis meses com vínculo nesse instituto.

2) Como surgiu a possibilidade dessa experiência?

Realizei esse período no exterior graças ao Programa Doutorado Sanduíche no Exterior (PDSE), lançado anualmente pela CAPES. É um programa de auxílio para desenvolver pesquisa a nível internacional e aprimoramento de técnicas. Para isso, foi essencial ter contato com o professor do local, que confirma o aceite para o período. O Instituto do Cérebro foi essencial neste processo, visto que o contato foi estabelecido por meio do Instituto.

3) Qual era a tua rotina no laboratório?

Minha rotina diária envolvia processar todas as duzentas imagens que foram coletadas aqui no Brasil. O que eu fazia era escrever scripts, corrigir erros de processamento e analisar as imagens. Fiz isso de maneira unimodal, como estava previsto no projeto, e multimodal, que foi o objetivo do projeto no exterior. Assim, foi possível aprender a técnica de fusão de imagens para descobrir alterações que uma única modalidade não consegue descobrir. Além disso, participava de reuniões quinzenais e palestras. Apresentei o projeto e os resultados diversas vezes, consegui sugestões e críticas que ajudaram muito na escrita do artigo.

4) Você trabalhava em um ambiente com pessoas de outros países ou a maior parte era americanos?

No Instituto, basicamente se convive com todas as culturas. Não se tem distinção clara entre quem é de origem estrangeira ou de origem americana: contanto que mantenha o nível de qualidade, todos são bem-vindos. Isso é uma das características que mais chama atenção, pois inevitavelmente se contrastam diferentes culturas e se aprende com o diferente. Esse é um dos pontos fundamentais: entender que a diferença é, em última análise, muito construtiva.

5) O quanto este tipo de experiência internacional pode contribuir para o projeto de pesquisa acadêmico?

As contribuições para o projeto são inúmeras, vou tentar enumerar algumas. Indiretamente, o convívio com diferentes culturas te instiga a pensar de uma maneira inesperada: a criatividade surge nesse momento. Diretamente, aprende-se muito com as reuniões e discussões com outros grupos, com críticas que aprimoram a qualidade do trabalho. Além disso, aprendi técnicas que não são realizadas no nosso meio, as quais pretendo continuar utilizando para auxiliar outros pesquisadores aqui no Brasil.

6) Qual a tua percepção em relação aos laboratórios de pesquisa do exterior e os daqui?

A estrutura dos ambientes de pesquisa é bem semelhante. Por exemplo, as máquinas de ressonância magnética que existem lá são facilmente encontradas em vários lugares do Brasil. Acredito que a grande diferença seja na questão do ambiente em que a pesquisa se encontra. Devido a um forte financiamento do governo americano, a organização da estrutura de pesquisa se dá de forma muito diferente. Existem, por exemplo, cargos para auxiliares de pesquisa e pesquisadores que dedicam 100% do seu tempo para criar conhecimento, o que não é tão comum aqui. Isso possibilita que o maquinário da pesquisa gire de forma muito mais rápida: coletando, analisando e escrevendo os dados.

7) Nossas pesquisas são parecidas com o que se produz internacionalmente?

Sim, sem dúvida temos níveis de pesquisa muito semelhantes. Se o contexto facilitasse a coleta e análise de dados no Brasil, acredito que conseguiríamos criar pesquisa de alta qualidade e de alto rendimento, no sentido de quantidade de conhecimento criado. Porém, ainda sinto uma necessidade do Brasil reconhecer seus próprios problemas para usá-los como sujeito de pesquisa. Por exemplo, vejo que demências são temas muito frequentes nas pesquisas brasileiras, mas ainda faltam dados exatos para sabermos quantos idosos com demência temos nas nossas cidades.

8) Há quantas anda o projeto Superidosos?

O projeto Superidosos está no final de sua primeira parte, correspondente ao meu doutorado. Claro, o projeto deixou como herança a estrutura de pesquisa, que será usada para outros projetos e para a continuação de subanálises que venham a ocorrer.

9) Em geral, como foi essa experiência para ti, como pessoa?

Fantástica. Não teria outra palavra para descrever minha experiência lá. Tanto pessoal quanto profissionalmente, cresci de uma maneira indescritível. Morar com pessoas de outras nacionalidades, criar amigos que perpassam continentes e deixar memórias incríveis são apenas uns pontos que consigo verbalizar. Muita coisa é parte do sistema límbico.

10) Morar em uma cidade como Nova Iorque é muito diferente do que qualquer outro lugar em que já estiveste?

É um ritmo insano. Fiz a graduação sanduíche em Paris por um ano e foram experiências completamente diferentes. Nova Iorque tem algo único envolvendo as pessoas e os lugares. É muito fácil se adaptar ao ambiente, e logo eu já me sentia parte da cidade e do ritmo. É fácil ficarmos mal-acostumados.

11) O que tu trazes contigo de toda esta experiência?

Além de todas análises do meu doutorado, um artigo, a segurança em desenrolar o inglês, amigos que mantenho contato diário, o conhecimento de técnicas de neuroimagem, a esperança de criar pesquisa de qualidade, muitas memórias. E saudade, muita saudade.